Cristianismo: Puro, Simples, Verdadeiro e Resumido

Um verdadeiro Cristão deve buscar ser um seguidor e cumpridor dos ensinamentos de Jesus Cristo (conhecido pelo nome em hebraico e aramaico (idiomas nos quais ele foi criado): 'Yeshua' que significa basicamente: "a salvação, a libertação de Deus"), e para isso é necessário entender quais são os ensinamentos mais importantes e básicos, ou seja que: são a base de toda "a vida cristã", não é mesmo?

E quais são estes ensinamentos? 

Estes ensinamentos estão principalmente nas Escrituras do "Novo Testamento", ou em grego: Καινή Διαθήκη (Kainé Diathékē): "Nova Aliança". 

  • Καινή (Kainé) significa "novo", no sentido de algo renovado ou inédito.
  • Διαθήκη (Diathékē) pode ser traduzido como "aliança", "pacto" ou "testamento", referindo-se a um acordo formal ou promessa.

Essa expressão reflete a ideia central da teologia cristã de uma Nova Aliança entre Deus e a humanidade por meio de Jesus o Cristo (Yeshua o Messias). 

*Antes de continuar, acredito que seja importante apenas uma breve reflexão sobre o nome: "Jesus", e "os títulos": "Cristo" e "Messias"!

1) Por que o nome "Jesus" ficou mais conhecido ou popular no mundo do que o nome "Yeshua"?

Embora o próprio Jesus tenha nascido em Belém na Judeia, e onde os principais idiomas falados pela sua comunidade fossem o hebraico e o aramaico, aquela região e boa parte do mundo "civilizado" estava dominado pelo Império Romano, o qual o principal idioma era: o latim.

Então em resumo, o nome "Jesus" seria algo como a "latinização" do nome "Yeshua"? 
- Sim, para mais explicações ainda sobre o nome "Jesus" leia o nosso artigo: Jesus ou Yeshua?

2) Sobre os títulos: 

A palavra Cristo vem do grego Χριστός (Christós), que significa "ungido". Já Messias tem origem no hebraico מָשִׁיחַ (Mashiach), que também significa "ungido". Ou seja, Cristo e Messias são palavras equivalentes

No mundo antigo as pessoas eram ungidas geralmente em uma cerimônia religiosa, para designá-la para um ofício especial ou um propósito divino. Essa prática é uma tradição rica e antiga, presente em diversas culturas e religiões. As razões para isso são multifacetadas e incluem:

1. Consagração e Santificação

A unção era um ato de consagração, que significava "separar" algo ou alguém do uso comum e dedicá-lo a um propósito sagrado. O óleo, muitas vezes perfumado e considerado puro, simbolizava a limpeza, a purificação e a santidade. Ao ser ungido, o indivíduo ou objeto era ritualmente tornado sagrado e apto para interagir com o divino.

2. Transferência de Autoridade e Poder Divino

Acreditava-se que a unção conferia ou simbolizava a transferência de poder, autoridade e bênção divina.

  • Reis: No Antigo Israel e em outras monarquias antigas do Oriente Próximo, reis eram ungidos como um sinal da escolha e bênção de Deus para governar. A unção os legitimava como líderes divinamente nomeados, e frequentemente se acreditava que o Espírito do Senhor repousava sobre eles após a unção, concedendo-lhes sabedoria e força.
  • Sacerdotes: Sacerdotes eram ungidos para seu ofício, simbolizando que eles eram separados para servir a Deus e mediar entre Deus e o povo. Isso lhes dava a autoridade para realizar rituais e sacrifícios.
  • Profetas: Em alguns casos, profetas também eram ungidos, indicando que eram inspirados e capacitados pelo Espírito de Deus para entregar Sua mensagem.
3. Cura e Proteção

Em muitas culturas antigas, o óleo não tinha apenas propósitos rituais, mas também era usado por suas propriedades medicinais e protetoras.

  • Saúde: O óleo era frequentemente aplicado em feridas e doenças, e havia a crença de que ele poderia afastar espíritos malignos ou influências que causavam enfermidades. A unção, nesse sentido, unia a fé e a prática médica da época.
  • Proteção: A unção poderia ser vista como um escudo contra o mal, selando a pessoa com uma "boa" influência e resistindo à corrupção ou ataques espirituais.

4. Honra e Hospitalidade

Ungir alguém também era um sinal de grande honra e hospitalidade. Em culturas antigas, especialmente em climas secos, o óleo era um bem precioso. Oferecer a um hóspede a unção com óleo (muitas vezes perfumado) após uma longa viagem era um gesto de boas-vindas, refrescamento e distinção.

5. Simbolismo e Identificação

O ato físico de aplicar o óleo servia como um símbolo tangível de uma realidade espiritual ou social invisível. A pessoa ungida era visivelmente marcada como alguém com um status ou propósito especial, tanto para a comunidade quanto para si mesma. Isso reforçava sua identidade e sua relação com o divino.

Em resumo, a unção no mundo antigo era uma prática multifuncional que entrelaçava aspectos religiosos, sociais e práticos. Ela servia para consagrar, conferir autoridade, promover cura, demonstrar honra e simbolizar uma conexão profunda entre o indivíduo e o sagrado ou seu propósito divino.

Agora que entendemos tudo isso, vamos voltar ao assunto principal deste artigo ok?

Quais são os ensinamentos mais importantes e básicos do Cristianismo?

O meu mandamento é este: Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos. 

João 15:12,13


O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo conhecimento, desaparecerá; Porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos; Mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado. Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, pensava como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino. Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido. Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor. 

1 Coríntios 13:8-13


Bem, existem outros trechos que demonstram que o AMOR é o ensinamento principal do Cristianismo, mas por que parece que as pessoas e as mais "diversas religiões cristãs" fazem uma grande tempestade em um copo d'água em torno disso se parece ser algo tão "simples"?

Realmente "amar" embora pareça algo tão "simples", pode não ser.

- Será que nós sabemos "amar"? 

- Será que nós temos "a capacidade de amar como Deus nos amou (desde o início) e ama"?

Acredito que estas são 2 das principais questões que podem nortear toda a "essência resumida" do Cristianismo, de maneira que devemos inclusive aprender como: "amar os nossos inimigos" conforme Jesus nos ensinou: 

Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo, e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus; Porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos. Pois, se amardes os que vos amam, que galardão tendes? Não fazem os publicanos também o mesmo? E, se saudardes unicamente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os publicanos também assim? Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus. 

Mateus 5:43-48


E assim, quando você pergunta para uma pessoa que conhece minimamente o Cristianismo, a seguinte questão, que pode ser uma técnica inclusive para encerrar ou se desviar de conversas infrutíferas: 

- Se você pudesse resumir o Cristianismo em uma única palavra, qual seria?

Acredito que a maioria diria "AMOR", não é mesmo? 

Então se você estiver em uma conversa que parece estar sendo infrutífera ou se desviando do propósito, realize esta pergunta para si mesmo, e para a(s) outra(s) pessoa(s) com que estiver conversando, e se for necessário complemente com: "Será que estamos imitando o amor de Cristo com essa conversa?"

Em outras religiões esse tipo de "acontecimento" talvez não seja possível, por exemplo, se você fizer o mesmo questionamento para outras religiões ("se você pudesse resumir a sua religião em uma palavra, qual seria"), possivelmente as respostas serão as seguintes:

- Hinduísmo: "devoção"
- Budísmo: "renúncia"
- Islamísmo: "obediência"
- Judaísmo: "mandamentos"
- Religiões do Nova Era: "iluminação"
- Religiões cientificistas: "conhecimento"

Enfim, estas seriam as possíveis respostas, mas isso pode variar de pessoa para pessoa, e como uma pessoa pode entender determinada religião, contudo ainda, talvez diferentemente de outras religiões, a salvação de Deus no Cristianismo é pela misericórdia e graça de Deus sem que dependa das obras ou mesmo da vontade humana.

De modo que se para uma religião talvez uma pessoa que não creia em Deus (ateísmo-agnosticismo), seja considerada já como "condenada ao inferno", dentro do Cristianismo o jugalmento que Deus irá realizar não é simplista, mas analisará todo o contexto de vida daquela pessoa, pois está Escrito:

"A quem muito é dado, muito será requerido" (Lucas 7:47; 12:48; 16:10...)

Então se você é uma pessoa esclarecida, que sabe a vontade de Deus e tem capacidade para diferenciar o que é bom do ruim, e é capaz de seguir o caminho do bem, o seu julgamento será feito de maneira diferente daquele que não o conhecimento ou as capacidades de entendimento. 

Ah, então não é melhor permanecer na ignorância?

Deus também vai julgar de maneira justa as pessoas que buscaram entendimento daquelas pessoas que nem sequer tentaram buscar. Deus julgará tudo de maneira precisa e justa. E por Deus ser Deus, ser onisciente (saber todas as coisas) e ser onipotente (ter todo o poder) Ele é o único que poderá realizar esse julgamento de maneira perfeita.

Bem, de maneira super resumida, acredito que a explicação das doutrinas centrais da religião cristã sejam basicamente estas, mas obviamente ainda existem muitos assuntos sobre: 

  • "o primeiro pecado" (no Eden), 
  • "a trindade",
  • "o batismo",
  • "mandamenos"
  • etc...
Além de uma infinidade de outros assuntos secundários, mas de acordo com as próprias palavras das Escrituras do Antigo e do Novo Testamentos, acredito que posso encerrar este artigo de maneira um tanto satisfatória com os seguintes versos:

Procurou o pregador achar palavras agradáveis; e escreveu-as com retidão, palavras de verdade. As palavras dos sábios são como aguilhões, e como pregos, bem fixados pelos mestres das assembleias, que nos foram dadas pelo único Pastor. E, demais disto, filho meu, atenta: não há limite para fazer muitos livros, e muito estudo é enfado da carne. De tudo o que se tem ouvido, o fim é: Teme a Deus, e guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo o homem. Porque Deus há de trazer a juízo toda a obra, e até tudo o que está encoberto, quer seja bom, quer seja mau. 
Eclesiastes 12:10-14 (versos finais do mesmo livro)

E já está próximo o fim de todas as coisas; portanto sede sóbrios e vigiai em oração. Mas, sobretudo, tende ardente amor uns para com os outros; porque o amor cobrirá a multidão de pecados. Sendo hospitaleiros uns para com os outros, sem murmurações, cada um administre aos outros o dom como o recebeu, como bons mordomos da multiforme graça de Deus. Se alguém falar, fale segundo as palavras de Deus; se alguém administrar, administre segundo o poder que Deus dá; para que em tudo Deus seja glorificado por Jesus Cristo, a quem pertence a glória e poder para todo o sempre. Amém
1 Pedro 4:7-11

Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros. 
João 13:34,35

E o seu mandamento é este: Que creiamos no nome de seu Filho Jesus Cristo, e nos amemos uns aos outros, segundo nos deu mandamento. E aquele que guarda os seus mandamentos nele está, e ele nele. E nisto conhecemos que ele está em nós, pelo Espírito que nos tem dado. 
1 João 3:23,24

Porque este é o amor de Deus: Que guardemos os seus mandamentos; e os seus mandamentos não são pesados. 
1 João 5:3

A ninguém devais coisa alguma, a não ser o amor com que vos ameis uns aos outros; porque quem ama aos outros cumpriu a lei. Com efeito: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não darás falso testemunho, não cobiçarás; e se há algum outro mandamento, nesta palavra se resume: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. O amor não faz mal ao próximo. De sorte que o cumprimento da lei é o amor. 
Romanos 13:8-10

Porque toda a lei se cumpre numa só palavra, nesta: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. 
Gálatas 5:14

Levai as cargas uns dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo. 
Gálatas 6:2


E para "finalmente finalizar" este artigo vamos apenas analisar um trecho muito importante do seguinte verso abaixo:


"O cumprimento da lei é o amor."
Romanos 13:10

A palavra grega antiga νόμος (nómos), embora frequentemente traduzida como "lei", possui um significado muito mais amplo e complexo que vai além de uma mera regra escrita ou estatuto. Para detalhar o significado de "lei" (nómos) em grego, é crucial entender suas nuances e o contexto filosófico e social da Grécia Antiga.

1. Lei Escrita (Estatuto, Decreto)

Este é o significado mais direto e semelhante à nossa concepção moderna de "lei". Refere-se a:

  • Legislação formal: Leis promulgadas por uma autoridade legislativa (como a assembleia ateniense) e escritas em códigos ou estelas. Essas leis eram vinculativas e aplicáveis a todos os cidadãos.
  • Decretos e ordenanças: Regras mais específicas ou temporárias.
  • Exemplo: As leis de Sólon ou Drácon em Atenas seriam nomoi.
2. Costume, Uso, Tradição (Lei Não Escrita)

Este é um dos aspectos mais importantes e que diferencia nómos de nossa "lei" moderna. Refere-se a:

  • Normas sociais e éticas: Práticas e comportamentos que eram amplamente aceitos e seguidos na sociedade, mesmo sem estarem formalmente escritos. Eram transmitidos oralmente de geração em geração.
  • Tradições religiosas e rituais: Modos estabelecidos de adoração, celebração e comportamento religioso.
  • Regras morais: Princípios de certo e errado que guiavam a conduta individual e coletiva, muitas vezes enraizados na cultura e na história de uma pólis.
  • Exemplo: A Antígona de Sófocles explora o conflito entre o nómos (lei da cidade) e as "leis não escritas" (costumes divinos e familiares).
3. Ordem, Arranjo, Distribuição

Nómos deriva do verbo némein (νέμειν), que significa "distribuir", "atribuir", "repartir", "governar". Essa raiz implica um senso de:

  • Ordem natural ou cósmica: A maneira como o universo e a sociedade estão arranjados de forma ordenada e esperada. Pindaro, por exemplo, chegou a personificar Nomos como o "rei de todos, mortais e imortais", sugerindo uma ordem universal que tudo governa.
  • Organização social: A estrutura e a organização de uma comunidade ou cidade-estado (pólis).
  • Distribuição de terras ou bens: Como as coisas são repartidas ou administradas.
4. Melodia, Tonalidade (Música)

Curiosamente, nómos também podia se referir a um tipo de melodia ou composição musical padronizada, especialmente aquelas para lira ou flauta. Isso reforça a ideia de "ordem" e "estrutura" inerente ao termo.

O Debate Nomos x Physis

Um dos debates filosóficos mais significativos na Grécia Antiga, especialmente com os sofistas, era a antítese entre nómos (lei, convenção, costume) e physis (natureza).

  • Physis (φύσις): Representava o que é natural, inato, universal, aquilo que existe por sua própria essência, independente da intervenção humana (como a gravidade, a necessidade de comer, etc.).
  • Nomos (νόμος): Representava o que é artificial, convencional, criado pelos humanos, variável de uma sociedade para outra.

Os sofistas, em particular, exploravam essa dicotomia. Alguns argumentavam que o nómos era uma invenção humana para controlar os mais fortes ou para manter a ordem, podendo ser contrária à physis (por exemplo, as leis que restringem a liberdade natural do indivíduo). Outros, como Platão e Aristóteles, tentaram reconciliar os dois, argumentando que um nómos justo deveria estar em harmonia com a physis, ou seja, as leis humanas deveriam refletir uma ordem moral ou natural superior.

Portanto, quando um grego antigo usava a palavra nómos, ele poderia estar se referindo a:
  • Uma lei escrita específica.
  • Um costume ou tradição enraizada na sociedade.
  • Uma ordem ou arranjo subjacente a algo.
  • Em um contexto mais amplo, uma norma que governa a conduta humana, seja ela estabelecida por convenção ou refletindo uma ordem mais profunda.

A polis grega era profundamente moldada por seus nomoi, que eram vistos como essenciais para a sua identidade, estabilidade e bem-estar. O respeito pelos nomoi (eusebeia) era uma virtude cívica e religiosa fundamental.

Da mesma forma palavra תּוֹרָה (Torá) em hebraico é um termo central no judaísmo e possui um significado muito mais profundo e abrangente do que a simples tradução para "lei".

Para detalhar o significado de "Torá", é importante considerar suas diversas camadas:

1. Significado Literal e Etimológico: Instrução, Ensinamento, Direção, Guia

A palavra "Torá" deriva da raiz hebraica יָרָה (yarah), que significa:

  • Lançar/Atirar (como uma flecha): Implica a ideia de "apontar o caminho" ou "direcionar para um alvo".
  • Ensinar, instruir: Este é o sentido mais predominante e fundamental. A Torá é vista como a instrução de Deus para a humanidade, mostrando o caminho correto a ser seguido.
  • Direcionar, guiar: A Torá é um guia para a vida moral, ética e religiosa.

Portanto, a Torá é, em sua essência, um ensino divino que fornece direção e guia para a vida.

Relação com a "Lei"

Quando a Torá é traduzida como "Lei", isso se refere principalmente aos mandamentos (Mitzvot) contidos nela. É importante notar que, para o judaísmo, a "lei" não é apenas um conjunto de regras frias, mas sim um caminho (Halachá) para a vida, uma forma de se relacionar com Deus e de viver em santidade e retidão. É um guia para a conduta que visa aprimorar o indivíduo e a sociedade.

Abaixo algumas informações interessantes das crenças judaicas que podem diferir "um pouco" da religião Cristã:

2. A Torá Escrita (Pentateuco)

Este é o significado mais comum quando se fala de "A Torá" em um contexto específico. Refere-se aos cinco primeiros livros da Bíblia Hebraica, também conhecidos como Pentateuco (do grego, "cinco livros"):

  • Bereshit (בראשית - Gênesis): Criação do mundo, patriarcas.
  • Shemot (שמות - Êxodo): Libertação do Egito, revelação no Sinai.
  • Vayikra (ויקרא - Levítico): Leis sacerdotais, rituais, santidade.
  • Bamidbar (במדבר - Números): A jornada no deserto, censo.
  • Devarim (דברים - Deuteronômio): Reafirmação da Lei, discursos de Moisés.

Estes livros contêm:

  • Narrativa histórica: A história da criação do mundo, a formação do povo de Israel, a saída do Egito e a jornada pelo deserto.
  • Mandamentos (Mitzvot): As 613 leis (mandamentos) que governam a vida judaica, abrangendo aspectos rituais, éticos, sociais e jurídicos. Exemplos incluem os Dez Mandamentos, leis alimentares (cashrut), leis de pureza, leis sobre festividades, etc.
  • Ensino moral e teológico: Princípios sobre a natureza de Deus, a aliança com Israel, a justiça, a caridade e a responsabilidade humana.
3. A Torá Oral (Torah Sheb'al Peh)

No judaísmo rabínico, a Torá não se limita apenas aos cinco livros escritos. Há também a Torá Oral, que é a interpretação, elucidação e expansão da Torá Escrita, transmitida oralmente de geração em geração. Acredita-se que esta Torá Oral foi revelada a Moisés no Sinai junto com a Torá Escrita. Ela inclui:

  • Mishná: A codificação das leis e tradições orais.
  • Guemará: Comentários e análises sobre a Mishná.
  • Talmud: A combinação da Mishná e da Guemará.
  • Midrashim: Interpretações e elaborações de textos bíblicos.

A Torá Oral é fundamental para entender como os mandamentos da Torá Escrita são aplicados e vividos no dia a dia. Por exemplo, a Torá Escrita pode dizer "Não cozinharás o cabrito no leite de sua mãe", mas a Torá Oral detalha isso para abranger a separação de todos os produtos cárneos e lácteos.

A frase completa em hebraico é תּוֹרָה שֶׁבְּעַל־פֶּה (Torah Sheb'al Peh).

Vamos quebrar o significado literal:

  • תּוֹרָה (Torah): Como já discutimos, significa "instrução", "ensinamento", "guia".
  • שֶׁ (She-): Esta é uma preposição que significa "que", "aquilo que", "o qual". É um conectivo.
  • בְּעַל (b'al ou be'al): Esta é a parte que se refere a "boca" ou "oral". A preposição "b' " (בְּ) significa "em" ou "com", e "al" (עַל) significa "sobre" ou "a respeito de". Juntas, elas formam a ideia de "sobre a boca" ou "por meio da boca".
  • פֶּה (Peh): Significa "boca".

Portanto, a tradução literal de תּוֹרָה שֶׁבְּעַל־פֶּה (Torah Sheb'al Peh) é "Torá que está sobre a boca" ou "Torá que é por meio da boca".

Na prática, isso significa "Torá Oral" ou "Lei Oral". É a instrução divina que foi transmitida e preservada através da tradição oral, de boca em boca, de geração em geração, antes de ser finalmente escrita (principalmente na Mishná e no Talmude).

A distinção é feita em contraste com a Torá Sheb'ichtav (תּוֹרָה שֶׁבִּכְתָב), que significa "Torá Escrita" ("Torá que está em escrita" ou "Torá que é por meio da escrita"), referindo-se aos Cinco Livros de Moisés.

Em resumo, "Sheb'al Peh" literalmente significa "que está sobre a boca" ou "por meio da boca", denotando a natureza oral e transmitida verbalmente dessa parte da Torá.

Recomendo a leitura do artigo: Costumes Judaicos?

4. A Torá em um Sentido Amplo (Todo o Ensino Judaico)

Em seu sentido mais amplo, "Torá" pode se referir a todo o corpo de ensino, sabedoria e tradição judaica, incluindo a Bíblia inteira (Tanakh), o Talmud, a literatura rabínica, a filosofia e a mística judaica. Neste contexto, qualquer estudo ou aprendizado de conteúdo judaico é considerado "estudo de Torá".

Em resumo, a palavra "Torá" em hebraico significa muito mais do que apenas "lei". Ela é a instrução divina, o ensinamento, o guia para a vida, manifestado nos Cinco Livros de Moisés (Torá Escrita), suas interpretações e aplicações através da Torá Oral, e, em seu sentido mais abrangente, todo o corpo da sabedoria judaica.

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